10 de setembro de 2011

Travesti - Perfis de personagens

Perfis de personagens por Alex Giostri.

A figura do travesti por si só já é uma causadora de polêmica. É, na mesma medida, adorada e desprezada; sua presença geralmente causa curiosidade, provoca discussões de todo quanto é tipo, desperta o lado moral e amoral de quem olha, altera o emocional, principalmente dos homens.

O travesti é um travesti. É um indivíduo do sexo masculino que num determinado período de sua vida, sabe-se lá por qual motivo – e podem ser inúmeros, assim como para qualquer transformação na vida – transformou-se num ser de aparência feminina, buscou, no decorrer de sua transformação, a feminilidade, espelhou-se definitivamente na mulher.

Engano ingênuo o ator ou pesquisador que aproximar o travesti do gay. O travesti é aquele que corteja a mulher de modo tão pleno, que opta por transformar-se numa. É também um ser do sexo masculino que mantém relações homossexuais, no entanto, é um ser do sexo masculino transformado num alguém de aparência feminina. Sua relação com a vida é bem distante da do gay comum.

Basta um olhar mais atento, para perceber que o trejeito do travesti é enriquecido com a delicadeza da mulher. O interessante dessa busca – do travesti pelos trejeitos femininos – é que, ao imitar, ou tentar aproximar o andar da mulher, por exemplo, o travesti, por ser, antes um ser do sexo masculino, conseqüentemente, um ser com mais virilidade, com uma musculatura mais enrijecida, passa do delicado feminino à busca da delicadeza.

Tal busca, naturalmente, não é totalmente alcançada, uma vez que todo o contexto físico do ser do sexo masculino é oposto ao da mulher. E é essa a busca ideal de se pensar. Essa relação física. A maneira que anda um travesti sobre um salto, a voz do travesti, as mãos do travesti, a busca pela maciez dos detalhes da vida.

Uma dica para um ator que queira construir um travesti é que passe a olhar as mulheres da rua cobiçando-as, com olhos de observador e não com olhos de homem desejando a mulher. Ela não poderá ser mais a gostosa que passa, mas sim o próprio objeto de cobiça, não por ela, mas por sê-la. O ator deve querer ser a mulher que vê. Com isso, o travesti que não está dentro, aparecerá como se dentro estivesse. E aí sim começam os trabalhos, a lapidação.

É importante que o ator ou o pesquisador tenham em mente que o travesti é um ser humano como outro qualquer, e que não se trata de um folclore, de uma alegoria. O olhar da busca deve ser sério, sem desmoralizações. Toda a intenção definirá a qualidade do trabalho.

Quanto à postura agressiva e deselegante de alguns dos travestis, o pesquisador e o ator podem pensar sob a ótica da lei do ataque e da defesa. O travesti que se torna alvo de chacota aprende da vida que quem pode mais chora menos e parte para o ataque, seja físico, ou mesmo em xingamentos etc.

Quanto à busca dos conflitos internos, é interessante de se pensar na questão da identidade. Ora, um homem que dorme mulher e acorda homem, com o pinto duro. Um homem que à noite deslumbra e de dia repudia. A questão dos conflitos internos cada um de nós deve pesquisar e definir o que pensa sobre o assunto. Não adianta esperar ouvir essa parte de conflito interior dos travestis. A maioria não admitirá o sofrimento. Entra aí a questão da negação. Uma outra ferramenta para ser estudada.


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