4 de setembro de 2011

SOBRE A CRIAÇÃO DO DISCURSO

Alex Giostri, formado em cinema, ganhador de diversos prêmios e escritor de livros e peças teatrais.

“O teatro talvez seja uma das artes mais difíceis porque requer três conexões que devem coexistir em perfeita harmonia: os vínculos do ator com sua vida interior, com seus colegas e com o seu público.”
BROOK, Peter

O título pode levar o ator a pensar algo além do que se quer dizer aqui. Naturalmente há muito mais o que ser dito, no entanto, a criação se quer neste trabalho como maneira de discurso mesmo. O ato da criação do discurso aqui é a construção da fala, do que sai da boca do ator. E o que sai da boca do ator são palavras. Neste sentido, é fundamental que o ator tenha consciência de tudo o que diz para poder controlar a maneira que dirá.

O que é que move a ação de uma trama? Um conflito? Mais do que isso. É o verbo que move nossa vida e nossa língua. Ora, como alguém pode ir a algum lugar sem a utilização do verbo? Eu... Eu, o quê? Vou? Estou? Ela... Ela me... Traiu? Roubou? Amou?

É através do verbo, da palavra, do significado da palavra, que o ator pode se alicerçar em sua ação. Claro, num primeiro momento. Mas é o momento inicial e o mais importante, uma vez que sem o entendimento do que deve ser dito o ator não pode levantar personagem algum.

O interessante é pensar que através do conhecimento pleno da palavra e de seu peso, o ator avalia a essência da personagem a ser construída e insere o tom exato. O verbo de ação mesmo sendo o mesmo verbo terá, sempre, peso e medida distinta, isso conforme a atuação do ator e a personalidade da personagem. Essa liberdade e amplitude de criação só se dão se o ator tiver tal noção e aproximação às palavras.

A criação do discurso aqui se quer assim: o ator cria o seu discurso, que é a fala de sua personagem, através do conhecimento pleno das palavras a serem ditas por sua boca e por sua razão. Através de tal conhecimento, o ator insere a emoção e as técnicas, que farão parte do todo de seu trabalho.

É fundamental que o ator consiga desligar-se de si mesmo, de sua vaidade, de seu ego, que crie espaços vazios e que os preencha com referências advindas de inúmeros canais de criação e, que, neles, nos espaços vazios, possibilite uma nova vida, um novo discurso, com estímulos sólidos, de preferência com as descrições (de si para si mesmo) das sensações, para realmente oferecer algo que interesse tanto ao público quanto e, principalmente, a si.

“A habilidade específica do ator profissional consiste em provocar em si mesmo, sem esforço nem artificialidade perceptíveis, estados emocionais que não pertencem a ele e sim à personagem.”
BROOK, Peter

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