6 de setembro de 2011

SOBRE A RESPIRAÇÃO - O SILÊNCIO E AS PAUSAS

Alex Giostri, formado em cinema, ganhador de diversos prêmios e escritor de livros e peças teatrais.

A respiração é fundamental à vida. Ao ator é essencial a boa respiração na vida e na hora de construir suas personagens. A respiração está ligada à emoção de modo muito próximo, tão próximo que a cada mudança no padrão da respiração, a reação emocional é alterada de maneira visível.

O ator, ao construir uma personagem, deve se ater à sua respiração. Não a dele, mas à respiração da personagem. Isso implica entrar em contato com o mundo das percepções, da sensibilidade do ator sobre o seu objeto de pesquisa, a personagem.

O ritmo da fala pode ser vital ou destruidor para determinadas personagens. Neste sentido, é interessante que o ator alguns dos exercícios de respiração e que também entre em contato consigo próprio conhecer melhor o ritmo de sua respiração. Há um ciclo natural da respiração e há um ciclo respiratório do dia-a-dia, que nem sempre é aquele que algum de nós gostaria de ter.

O objetivo do ator ao aprofundar-se nesta questão da respiração é ganhar espaço da fala, de reação e ação e, sobretudo, conhecer o seu potencial de fala e de reserva.

A natureza, o contato com os animais, com os bichos mais agitados, mais calmos, com as plantas, flores, com o mar, toda essa relação com as coisas do mundo, da vida, podem ser úteis ao ator. É das pequenas coisas mesmo que o ator poderá retirar o seu material de pesquisa. E se tratando de natureza humana, das relações com a vida, sabe-se que o ar, a respiração, é o alimento, o combustível de cada um de nós.

Quando o ator tiver essa compreensão sobre a respiração e de que o seu ar é o ar comunicador de sua vida em cena, as respostas naturalmente se oferecerão a ele.
A respiração, nesta reflexão, está ligada à fala. Portanto, ligada à fala do ator estão ligados o silêncio e a pausa.

O silêncio por si só é um agente comunicador muito mais eficiente do que a própria fala. Se o ator unir o silêncio e a pausa junto à respiração, à fala e às técnicas de interpretação, aí não há quem o segure de seu potencial dramático.

Para muitos, o silêncio é o vazio, o nada; o silêncio é muito relacionado à solidão. E a solidão é algo que muitas pessoas lutam a vida toda para não conhecerem. O silêncio relaciona-se com a ausência de algo, com ausência da palavra falada.

Ao contrário do que se possa imaginar, o silêncio é fundamental para o todo da criação dramática e também à vida. O silêncio como qualidade de vida pode ser uma alternativa para uma vida mais branda, mais serena e mais voltada para o autoconhecimento, que é o caso do ator, ou pelo menos deveria ser. Não o de estar sozinho, no silêncio, mas o de estar na busca do autoconhecimento dia após dia, minuto a minuto.

Esse autoconhecimento passa pela via do silêncio inevitavelmente, seja na hora de criar as personagens, seja sobre um palco ou de frente a uma câmera. É uma busca interessante essa do autoconhecimento, pois é necessário que o ator conheça-se plenamente para poder ceder o espaço de seu eu ao eu da personagem.

Portanto, o silêncio em cena é um elemento dramático fundamental e de uma funcionalidade espetacular. Um silêncio bem elaborado, no momento correto, dirá muita coisa, caso seja essa a intenção da cena e da personagem.

Paralelo a tudo isso, estão as pausas que também são silêncio, no entanto estão dispostas entre uma palavra e outra. É comum a todos nós uma ansiedade e até um pouco de insegurança que nos faz acelerar nossa respiração. Ao ator, tal ansiedade ou insegurança, ou ambas, pode levá-lo a comer letras ou a enrolar as sílabas, o que o deixará em maus lençóis publicamente, sobre um palco.

A construção da fala pode ser pensada, inclusive, através do silêncio e das pausas. Se o ator desenhar sua fala através dos pontos de virada e do silêncio o resultado pode ser surpreendente. O que é bom pensar é que a importância da fala e pausa é a mesma, assim como a importância do silêncio e do ator em cena.

Enfim, ao ator é fundamental o exercício com o silêncio, com a respiração e com as pausas. Primeiramente consigo próprio, depois com todas as personagens que criará.

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