10 de setembro de 2011

O ATOR E O ATO DE ATUAR

Alex Giostri, formado em cinema, ganhador de diversos prêmios e escritor de livros e peças teatrais.

A questão do atuar muitas vezes fica confusa, mal resolvida na vida do ator. O atuar está diretamente ligado à interpretação, à interpretação de algo ou alguma coisa. No entanto, essa relação vai além. Além uma vez que o atuar é aquilo que se apresenta a alguém, aos espectadores. E o que se apresenta aos espectadores é algo já elaborado.
O que deve estar em primeiro plano para o ator é o processo, a elaboração. Não há uma interpretação, ou vivência - seja lá como se chamará aquilo que se apresenta - se não houver uma boa elaboração, um processo eficaz onde todas as informações necessárias para a construção do que se está construindo forem bem refletidas e aproveitadas.

Levando em consideração a famosa frase que diz: “nada se cria, tudo se copia”, o ator deve “copiar” o que os mais experientes oferecem. Copiar no sentido de compreender de onde os mais experientes, os atores que estão há mais tempo na ribalta, beberam suas informações. Isso significa que a base de qualquer elaboração, de qualquer processo é o conhecimento. Conhecimento técnico, teórico; conhecimento de vida.

Do conhecimento técnico o que o ator deve tentar compreender é que há e houve muitos pensadores a respeito do assunto interpretação. E que cada um desses pensadores, teóricos, encenadores, dramaturgos, encontrou a melhor maneira de desenvolver o seu ofício, o seu pensamento, a sua reflexão, dentro daquilo a que se propôs.

Ao ator resta a leitura e a compreensão do maior número de autores possíveis dentro de sua área no que diz respeito às técnicas. Não há porque citar nomes, uma vez que ao ator é fundamental a curiosidade, a vontade do saber mais. Portanto, a idéia é que cada ator leitor busque esses tantos nomes que integram uma listagem fundamental ao conhecimento técnico-artístico de seu ofício.
Um outro ponto fundamental para o desenvolvimento da arte de atuar do ator é que ele primeiramente se atenha à interpretação do palco para dentro, do estúdio para dentro, da locação para dentro. Nunca ao contrário. A vida deve ser vivida. E ao deixar-se viver, o ator deve preocupar-se com a sua boa relação com a natureza, com o caos, com as pessoas, com a falta de pessoas, com as dificuldades, com seus ganhos, suas perdas, suas alegrias, tristezas, amores, falta de amores, enfim, é essencial que o ator integre-se à vida de modo genuíno e dela se utilize para conhecer-se e conhecer o outro.
É uma estratégia importantíssima uma vez que quando se fala de interpretação se fala de interpretação de alguém ficcional com vida. E quando se trata de vida, da vida de uma outra pessoa que não existe, mas que passa a existir a partir do momento em que foi elaborada e apresentada ao público pelo ator, é praticamente impossível que se alcance uma verdade se não houver essa relação primária entre o homem e a vida.

A elaboração nada mais é do que a busca pelo conhecimento da natureza humana, pelas questões do mundo, do universo em que se vive e até a do universo desconhecido. No momento em que o ator percebe que a arte de atuar é o resultado dessa busca, todo o movimento passa a ser mais completo; fica fortalecido o bastante para que possa haver então a busca pelo conhecimento teórico não técnico.

O conhecimento teórico não técnico é aquele dos livros, dos romances, dos clássicos da literatura, da poesia, dos livros bons e ruins. Nunca se viu na história um bom ator que não tivesse um mínimo de conhecimento teórico não técnico ou então um profundo conhecimento pelas questões da vida, do ser humano. E o caminho para esse conhecimento é a leitura, a busca pelo saber. E isso implica em tempo, ter tempo e disposição. E tempo e disposição são indispensáveis ao ator.

A bem da verdade é que a arte de atuar é algo que o indivíduo já possui dentro de si, mas é o ator com sua busca desmedida pelo conhecimento técnico, teórico e da vida que aprimora e a apresenta profissionalmente.

Agora, é importante que se saiba que não é todo indivíduo que tem essa predisposição à interpretação, à arte de atuar. Essa é uma questão de aptidão. E alguns dos indivíduos não possuem e nunca possuirão.

Muitos jovens buscam inúmeros cursos profissionalizantes e esquecem que ao chegar a esses cursos devem ter uma mínima base, uma pitada da tal aptidão. Caso contrário, nada acontecerá. O que um curso oferece em geral são técnicas, experiências de pessoas mais experientes e métodos. Nenhum dos cursos oferece talento, competência, perseverança, dedicação. Isso é responsabilidade de cada um dos participantes.

Ainda sobre a frase dita acima “nada se cria, tudo se copia”, o ator deve perceber que esse copiar não é tornar-se igual a um outro ator que deu certo; sim compreender a trilha percorrida do início ao fim. Não há o porquê queimar etapas. E o fato de um jovem ator seguir a trilha percorrida por um ator experiente que deu certo não é garantia de sucesso nem de reconhecimento.

O importante neste raciocínio e nessa busca é, de fato, a sensibilidade e a capacidade de percepção. Um ator predisposto à arte compreenderá exatamente o significado dessas palavras e seguirá o seu próprio caminho após observar o caminho dos outros. Esse ator deve ter em sua bagagem todos os conhecimentos citados acima e uma vontade enorme de fazer bem ao outro.

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