7 de setembro de 2011

SOBRE O ESTÍMULO E SOBRE AS EMOÇÕES

 Alex Giostri, formado em cinema, ganhador de diversos prêmios e escritor de livros e peças teatrais.

É importante que o ator tenha a compreensão que as emoções são fundamentais para a sua criação. E mais ainda, que a maneira que identifica e lida com elas podem auxiliá-lo no todo de seu trabalho. Essa maneira está muito atrelada à forma que cada um constrói o próprio universo; ao modo que cada um age e reage na vida. E tanto a ação quanto reação, as duas, são as respostas das percepções guardadas em caixinhas particulares, que o indivíduo possui dentro de si.

Ora, das emoções o que o ator deve ater-se profundamente são as suas causas e as origens. Como, por exemplo, um ator pode identificar dentro de si uma determinada emoção distante de seu universo particular?
Naturalmente, se tratando de emoções para construção de personagens, o ator trabalhará com o que aqui pode ser chamado de emoção subjetiva, que é uma emoção produzida pelo próprio eu do ator, através de sua vivência e memória emocional, da maneira que experimenta a vida.

Esse experimentar a vida é fundamental para que o ator compreenda que tudo ao seu redor está ligado às sensações e que em tudo que sente a sua função é destrinchar aquilo que acabamos de pensar como causa e origem. Isto significa que tais sensações, que estão conectadas às emoções, são reações (estímulos) de alguma ação externa ou interna. Essa compreensão, esse entendimento, facilita a vida do ator na hora da lapidação da personagem. E nos casos das emoções distantes da realidade do ator, o caminho mais seguro é a pesquisa de campo.

Ainda no que diz respeito às emoções, a prioridade ao ator é que faça o mergulho interno e a reflexão sobre todas as descobertas pessoais. É uma volta a si onde o que justifica tal atitude é a busca sobre as origens de tudo o que se sente. Isso é subjetivo e abstrato demais, no entanto, para facilitar o entendimento basta que se reflita sobre uma determinada reação emocional.
O ódio, por exemplo: um homem tem ódio de alguém num repente, tem ódio porque alguém fez alguma coisa que não lhe agradou. Geralmente o que desencadeia o ódio não é coisa em si, mas o que esse homem já tinha guardado dentro de sua caixinha. O ato do outro apenas abriu tal caixinha e colocou o sentimento para fora. O que interessa ao ator não é o ato em si, mas o que o ato provocou no outro. Mas não só isso também. O que interessa mesmo é compreender o porquê aquele ato provocou tal reação no homem. Indo por esse atalho, que é um pouco mais complicado, o ator terá muito mais ferramentas para se defender na hora da criação. O que antes era chamado interpretação passará a se chamar vivência emocional profunda.

É no decurso dessa vivência emocional profunda que o ator atingirá o cerne da personagem que está levantando e das pessoas que estão o assistindo. A emoção sentida pelo ator passa a ser a emoção transmitida e absorvida pelas pessoas. O ator exalará em seus poros aquilo que sente apenas se o que está sentindo tenha sentido para si e para seu público.

Neste sentido, pode-se pensar em estímulo. O ator provoca, através de suas ações, o estímulo de quem o vê. Faz com que todas as pessoas reajam de acordo com as suas experiências na vida, através de suas caixinhas particularidades. Ao exaltar o amor, o ator provoca a exaltação do amor em cada uma das pessoas. E, cada uma delas, terá a sua maneira pessoal de compreender o amor, mesmo o amor sendo um sentimento dito universal. É como se o ator propagasse uma emoção generalizada para que as pessoas sentissem coletivamente o que foi apresentado, no entanto, em cada uma delas a reação interna será singular.

Para a construção de uma personagem, o ator deve entrar pelo caminho de quem age passivamente diante de tal emoção; já para a apresentação da mesma personagem, a via é ação ativa, onde o ator distribui o que tem a oferecer e estimula quem estiver disposto a entrar no jogo.

Um ator preparado a entrar em contato com suas emoções e com as emoções do mundo, naturalmente está mais apto a desenvolver o seu ofício daquele que acredita que ao ator cabe apenas a interpretação de um papel e nada além. O espaço interno do ator apto a encarar as emoções é infinitamente maior. É esse espaço que proporcionará ao indivíduo a qualidade de seu trabalho, pois o que está na mesa trata-se do que há de mais sombrio e de mais transparente na natureza humana, suas emoções e as maneiras de lidar com elas.

Um ator apto ao desenvolvimento de sua função é um homem capaz de sentir profundamente na pele todas as dores e todas as glórias. É um homem capaz de captar o som da folha seca que cai da árvore. É aquela pessoa que sofre terrivelmente com a perda de alguma pessoa que nunca viu. É aquele ser que compreende o peso da palavra amor.
Um ator mergulhado nas suas emoções sorri para alguém desconhecido, é capaz e amar e odiar em frações de segundos. É do ator que se espera ouvir e ver as coisas mais belas e mais profanas do mundo, dele e de suas emoções.

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